terça-feira, 6 de setembro de 2011

O Maverick laranja

O suco do 302
A sede de Gustavo Castañon arranca o sumo do small block 302 Ford

Fotos: Bruno Guerreiro
Reportagem: Régis Vasconcellos

            O Maverick laranja repousa na árvore, alinhado para mais uma arrancada. A casca em fibra de carbono esconde toda a vitamina do número 10. Cada gota de potência do motor 302, em breve, será arrancada por 8.500 rotações. A explosão de saúde embaixo do capô vai fazer o rápido chassi semi-tubular devorar as parciais. Preste atenção, você terá apenas nove segundos para degustar o suco do 302.  
            As luzes desceram, o Maverick arrancou e o placar desabou: 9s389! Novo recorde brasileiro da Traseira Super e, também, a melhor marca para doorslammer aspirado da história nacional do esporte. O jovem piloto que plantou e colheu é Gustavo Castañon. Com apenas 23 anos, quatro de arrancada, ele tem troféus de gente grande na Traseira Super: Campeão do 14º Festival (2007), recorde do Velopark da extinta Super Street Traseira em 2008, foi o primeiro campeão brasileiro de 402 metros (2010) e é o atual recordista da Traseira Super em Curitiba (PR) e no Velopark.
            Avanço genético
            Gustavo começou sua trajetória na arrancada ao seguir os passos do pai, Cláudio Castañon, que corre de Mustang biturbo na XTM 10,5”. A primeira semente plantada foi um Mustang 95 conversível, aspiradinho, onde Gustavo fez as primeiras arrancadas amadoras em Minas Gerais, sua terra natal. Em pouco tempo ele estava no solo sagrado de Curitiba, para arranca, profissionalmente, durante o 13º Festival (2006). O piloto se lembra: “Corri em um Maverick GT amarelo, de rua mesmo, com pneus slick e ladder bar. O motor 302” tinha 266 cavalos na roda. Na primeira largada o pé da embreagem tremia muito, tanto que deixei o carro rolar e queimar. Depois o nervosismo passou e virei 11s6”.
            Pai e filho se empolgaram e compraram um monobloco 1977 para preparar inteiramente, do chão ao scoop. Foi um projeto tradicional, longe do estágio atual, mas com escolhas 100% drag race e um motor de 340 cavalos na roda. O desfecho do carro foi desastrado e cabalístico, como conta o piloto: “No dia sete, do mês sete, de 2007, o Maverick 77 capotou sete vezes no Mega Space”. O acidente de danos apenas materiais fez Gustavo crescer como piloto — hoje a segurança nunca é atropelada em detrimento ao desempenho.
            Um novo monobloco foi garimpado nas montanhas mineiras. Apenas cinco meses mais tarde, o carro passava por baixo da ponte do Autódromo Internacional de Curitiba, para sagrar-se campeão do 14º Festival com o tempo de 10s9. No ano seguinte, 2008, o Maverick preto recebeu novo motor, esse com 440 cavalos na roda. Os novos cavalos Ford levaram o carro a ótimos 10s131 no Velopark - tempo que deu a Gustavo o recorde da extinta Super Street Traseira. No final do ano, o número 10 foi para a G&R Drag Racing, São Paulo (SP), para receber um chassi semi-tubular assinado por Carlinhos G&R.  Enquanto os tubos formavam um novo carro, pai e filho mergulharam no mundo das arrancadas americanas para conhecer o que havia de melhor para Ford.
            Orange Rocket
            O chassi foi feito de aço carbono e usa suspensão traseira four link Competition Engineering com X link, toda feita em aço Cr-Mo. A parte frontal do chassi tem as longarinas até as portas e parede corta fogo de fábrica. O motor está na posição original, montado com seus respectivos suportes Ford. A obra de arte repousa a cerca de 3” do chão por completo.
            O motor 347 é uma vitamina desenvolvida pelo próprio Cláudio. Os cabeçotes são de ferro, preparados nos EUA e alimentados por oito borboletas Kinsler, também da terra do Tio Sam. O comando de válvulas não é coisa de prateleira, mas sim um roller que empurra as válvulas quase uma polegada (24,5 mm). Além da preparação mecânica pesada, outra novidade é o uso da eletrônica na alimentação e ignição. Esse foi o primeiro grande motor aspirado injetado a faturar recordes no Brasil.
            O gerenciamento eletrônico é feito por uma FT 300 acertada por Eraldo Bueno, um mestre na calibração com Fueltech. A potência do recordista nunca foi revelada, mas pelas parciais e peso do Maverick (1.058 kg) você pode fazer sua aposta. Na internet existem muitas especulações, alguns falam de 600 a 700 cavalos, outros mais otimistas comentam em 800. Especulações a parte, uma coisa é certa: a aparição desse motor na pista foi fator fundamental para liberação dos 350 nos Opala e, consequentemente, 351 nos Ford e 340-360 nos Dodge.
            Assim nasceu o foguete laranja, um carro que entraria para a história da arrancada. Em seu ano de estreia foi campeão brasileiro e faturou os dois principais recordes nacionais. A cada aparição do carro nas pistas um recorde foi quebrado — o ano começou com 9s8 nas duas retas, depois 9s6 no Paraná e 9s3 no Rio Grande do Sul.
            As parciais do Velopark foram 1s43, 3s96, 6s05@190 km/h, 7s81 e 9s389@243 km/h. No AIC o carro pulou muitas vezes 1s4 e fez 9s689, na passada recordista. Essa marca foi atingida no sábado, ainda com a mistura gorda. No domingo, com o motor afinado, o carro andou 9s7 com altos 1s6 nos 60 pés, o que deixou aquele mistério no ar: o que teria acontecido com um pulo de 1s4?
            As conquistas de Gustavo Castañon são sempre recheadas de emoção: “Quem está perto da nossa família sabe o quanto nos dedicamos aos carros, levamos a arrancada no coração. Trabalhamos muito e, com isso, vêm às expectativas. Quando atingimos uma marca expressiva o sentimento de alívio, de missão cumprida, é enorme. A emoção sempre vem à flor da pele entre todos os envolvidos no carro. O problema é que logo depois queremos ir mais rápido e o ciclo recomeça. Arrancada é um vício”.
            Cláudio Castañon desabafa para finalizar: “Conseguir fazer um carro 150 kg mais pesado que o antigo regulamento e ainda ser mais rápido foi uma vitória enorme para nós. Temos pouco tempo de pista e isso nos dá forças para prosseguir forte, estamos no caminho certo”.
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